O novo filme de animação do Homem-Aranha é uma obra de arte de seu gênero, pois os produtores conseguem oferecer um espetáculo visual inesquecível misturado a uma narrativa coesa, divertida e ao mesmo tempo profunda. O roteiro utiliza detalhes de todos os filmes, HQs e seriados que o herói já apareceu, além de ser uma belíssima homenagem aos próprios criadores Stan Lee e Steve Ditko.

Desde os primeiros segundos de exibição, esse longa metragem já trás uma primeira surpresa! Assim que a assinatura da Marvel Comics aparece na tela, vemos ela mudar de forma representando as diversas versões da editora pelo multiverso. O conceito de animação que a Sony traz a sua audiência é inovador e quebra os moldes de 3D estabelecidos pelos célebres filmes da Pixar de heróis, como Operação Big Hero (Big Hero Six, 2014) e Os Incriveis 2 (The Incredibles 2, 2018). A estética de quadrinhos que ganha vida aos olhos do público até nos pequenos detalhes é uma demonstração de criatividade, técnica arrojada e ousadia.

Assim que o primeiro trailer apareceu nos cinemas, muitos fãs do clássico herói aracnídeo, e até mesmo do próprio Miles Morales, reclamaram do estilo da animação apresentada pois lhe parecia algo datado e de baixa qualidade, porém o resultado final é totalmente o oposto disso. A granulação da tela dá um aspecto de página de HQ, o traço é robusto, moderno e extremamente adaptável a cada tipo de personagem. Sim, exatamente, cada uma dos personagens principais são animados conforme suas características distintas, levando a um impacto visual impressionante e fluido que dá uma sensação de individualidade a cada cena. A presença da linguagem gráfica usada nos quadrinhos tais como traços ondulantes para o sentido aranha, traços brancos discretos para representar a intensidade de uma ação e até mesmo o uso mais do que divertido das caixas recordatórias de narrativa são elementos essenciais para contar a história. A trilha sonora é composta de músicas com ritmos dançantes e empolgantes que são magistralmente posicionadas para dar o tom da cena, que varia entre ação e comédia.

O roteiro é impecável e leva o público a conhecer o cotidiano de Miles Morales, um adolescente afro-descendente, filho de um policial linha dura com uma amorosa enfermeira,  que acaba de entrar para uma nova escola. Os temas de bullying escolar, sobrecarga estudantil, drama pessoal e busca de uma aceitação são recorrentes e mostram Miles como uma pessoa cativante, divertida e com emoções complexas. Assim queseus poderes começam a se manifestar, Miles passa por situações cômicas que irão arrancar risos de todos com pouco esforço.

Tão logo os novos protagonistas surgem pela história, suas origens são apresentadas como revistas em quadrinhos e, que jogadas na tela, dão a impressão que somos nós que estamos deitados no chão folheando-as, enquanto os eventos que os levou até o local são revelados. Cada um deles é mostrado de uma forma única e bem humorada, digna de qualquer aventura do Homem-Aranha, sem nunca deixarem de ser relevantes para a jornada de Miles Morales.

O elenco de vozes originais oferece caracterizações espetaculares e marcantes. Shameik Moore que interpretou Shaolin Fantastic no seriado Get Down, da Netflix, faz o papel de Miles Morales com naturalidade, ao lado de grandes talentos como Chris Pine (Mulher-Maravilha), Nicholas Cage (Estado de Calamidade), Hailee Steinfeld (Bumblebee), Mahershala Ali (Luke Cage), Jake Johnson (Te peguei!), Lily Tomli (Grace andFrankie), Kimiko Glenn (Voltron) e John Mulaney (Saturday Night Live).

Há diversos eastereggs escondidos pelo filme que vão agradar os fãs de todas as idades e incentivá-los a vê-lo mais de uma vez! Além disso tudo, existe uma cena pós-credito inesquecível que fecha o filme com chave-de-ouro e que provocará aplausos em sua sala de cinema.

Ao estrear nos Estados Unidos, esse filme deu ao personagem Miles Morales muito mais relevância na cultura pop atual. A repercussão da animação já teve resultados positivos e incentivou um enorme aumento nas vendas do título  como nunca. Até mesmo Saladin Ahmed, argumentista atual do título deHQ de Miles Morales, comentou que o sucesso de vendas tanto da revista como dofilme se dá a percepção que o público de hoje tem do personagem: “Acho que ele [Miles Morales] faz uma ponte entre o velho e o novo de uma maneira muito especial. Há muitas maneiras em que a história de Miles toca em todos os tipos de super-heróis clássicos, e do próprio Homem-Aranha, que apresenta todos os tipos de elementos familiares de uma história que as pessoas adoram e reinterpretam por décadas. Diferente dos demais, Miles faz isso de uma forma moderna e dentro da realidade da América de hoje. Ele só tem um nome diferente, um rosto diferente, vem do Brooklyn e não do Queens, e talvez seja um pouco mais descolado como é a maioria dos adolescentes do século XXI, você entende, do que era Peter Parker no inicio de sua carreira. E então, eu acho que ele é perfeito para preencher essa lacuna.”.

Posso seguramente afirmar que estou me contendo ao máximo para não dar spoilers de Aranhaverso, porém é necessário lhes contar um detalhe… Um dos momentos mais importantes em minha opinião é a mensagem dada por Stan Lee, nesta sua primeira participação póstuma nas telas, que vem na forma de uma belíssima lição e, ao mesmo tempo, serve de despedida para todos os fãs de super-heróis no mundo. Miles entra em uma lojinha de fantasias baratas e compra de Stan Lee um uniforme simplório de Homem-Aranha. Assim que vai pagar pela roupa, o jovem de quatorze anos tem dúvidas se o traje irá servir nele e, prontamente, o velho vendedor lhe dá um sorriso de aprovação e diz que “irá servir em algum momento”; depois a câmera se move para o lado e mostra a placa de “não aceitamos devoluções”. É simplesmente tocante a maneira como a cena foi feita, mostrando o que Stan “the Man” Lee sempre dizia: “qualquer um pode ser um herói, basta tentar”.

Você sabe, meu lema é ‘Excelsior’. Essa é uma palavra antiga que significa ‘para cima e para a frente, para maior glória’. Está no selo do estado de Nova York. Siga em frente, e se for a hora de ir, é a hora. Nada dura para sempre.

– Stan Lee

O produtor Chris Millercompartilhou com a Entertainment Weekly como era importante honrar o legado deLee nesse filme: “No começo queríamos dara ele um lugar real no filme e não apenas um momento – algo que era excitante epoderia honrar seu legado, e também ser engraçado ao mesmo tempo. Obviamente, aquela cena ganhou um tom triste depois de sua morte, mas o espírito permaneceu exatamente o mesmo”.

Aranhaverso é imperdível por diversos motivos que posso citar por horas nesta crítica, mas lhe digo que nada o que eu escreva aqui irá substituir a experiência vibrante de estar dentro da sala de cinema eexperimentar a sensação que este filme dá em toda a sua duração. 

Homem-Aranha no Aranhaverso estreia dia 10 de Janeiro em todas as melhores salas de cinema do Brasil.

Nota:

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